sábado, 17 de abril de 2010

RECORDANDO...



Voltando muito atrás no tempo, ponho-me a comparar a minha Infância com a vossa, Meus Netos e como era diferente!

Viviamos numa casa com um grande quintal e, entre as nossas muitas brincadeiras ainda me vou lembrando, que com pedras faziamos pequenos currais, onde colocávamos caracóis e ficávamos ali tempos imensos a vê-los deambular dum lado para o outro. Tinhamos um baloiço, que era muito apreciado pela Titi, eu não achava graça nenhuma, pois aquele movimento dum lado para o outro causava-me enjoos.

Um dia o nosso avô NICAS ofereceu-nos uma casa de bonecas, tinha vários quartos, uma cozinha e uma casa de banho. Foi um dia que nunca mais esquecemos. Entre as nossas bonecas de pano havia uma a quem chamávamos Miricriados, quando aparecia era un "terror" pois desarrumava a casa toda, agora penso, que seria uma maneira de nos entreterem pois, tinhamos de arrumar tudo de novo.

Em Setembro de 1939 fomos surpreendidas pelo começo da II Grande Guerra Mundial, com os meus cinco anos, não me apercebia do que de grave se estava a passar. Tenho ideia de que me fazia confusão, ver os vidros das janelas com papeís em diagonal (explicaram-me que em caso de ataque seria uma protecção), também não gostava nada de ver a cidade sempre sem iluminação e, nas próprias casas tinham de ter cuidado para que as luzes não se vissem do exterior.

O tempo ia passando e, com ele a esperança de que este pesadelo iria acabar, vã ilusão, as notícias eram cada dia mais angustiantes. Os navios de Guerra aportavam muitas vezes na Cidade da Horta, uns com rombos enormes, outros tansportando feridos.

O vosso Bisavô, como era oficial, ia sempre a bordo. Um dia trouxe-nos um boneco vestido de marujo com uma cara de loiça,era um encanto, passou a ser a nossa mascote. Passados uns tempos o "nosso amigo marujo" caiu ao chão e, partiu-se. Não sei quem teve a triste ideia de mo atirar à cara, não sei explicar o que senti mas, naquele momento aprendi uma nova palavra MEDO.

A partir daquela altura, nunca mais consegui ver ou tocar em bonecas sem cabeça, sem braços ou pernas, é uma sensação estranha, penso que se me fechassem num quarto só com bonecas partidas eu, não resistia!!!!

Tenho de agradecer aos vossos primos, ao tio Miguel e à vossa Mãe pelo cuidado que sempre tinham comigo e com as bonecas.

Eu acredito que foi um acto impensado mas na Vida há pequenas coisas que nos marcam para sempre... nunca mais esquecemos.